Diante
da interminável onda de manifestação, impossível não registrar aqui no blog uma opinião.
Compartilho
uma das entrevistas com bom senso que escutei hoje e fiz a transcrição. É do
cientista político Malcon Camargos.
Não sou
contra reivindicação, mas é preciso um objetivo claro. O que virou é baderneira
e perdeu o sentido.
"É um movimento sem identidade, sem clareza! O que faz com que todo mundo possa ir para a rua manifestar. E quando todo mundo briga a favor de tudo, ninguém vai conquistar nada. Então não há uma pauta reivindicatória clara o que deixa os governos atônitos sem saber com quem negociar e o que negociar. O que leva, por natureza, ao fracasso do movimento, uma vez que você não tem bandeiras claras a ser conquistadas" fala de Malcon Camargos (cientista político)
"É um movimento sem identidade, sem clareza! O que faz com que todo mundo possa ir para a rua manifestar. E quando todo mundo briga a favor de tudo, ninguém vai conquistar nada. Então não há uma pauta reivindicatória clara o que deixa os governos atônitos sem saber com quem negociar e o que negociar. O que leva, por natureza, ao fracasso do movimento, uma vez que você não tem bandeiras claras a ser conquistadas" fala de Malcon Camargos (cientista político)
Rádio Itatiaia – Jornal da Itatiaia
1ª edição
21/06/2013,
sexta-feira
Cientista político diz que movimento
não tem identidade
No
jornal da Itatiaia o cientista político Malcon Camargos.
Kátia Pereira – Nós estamos acompanhando as
manifestações por todo o Brasil. Do ponto de vista da política, que análise que
se pode fazer sobre este momento que o Brasil está vivendo agora e vamos destacar
o que aconteceu ontem em Brasília quando tentaram invadir, incendiar também o
Palácio do Itamaraty, a hostilidade a imprensa, a crítica, até então aceitável
dentro de algum ponto de vista, aos partidos políticos. Que avaliação que nós
podemos fazer?
Malcon Camargos - Eu acho que é um momento bastante
delicado e preocupante que a democracia brasileira vem vivendo nestes últimos
dias, principalmente a partir das ações de ontem. Uma manifestação que começou
por canalizar interesses e insatisfações individuais, foi pegando diversos
interesses individuais sem nenhuma liderança. Ontem foi atacado o Executivo com
o Itamaraty, alguns legislativos estaduais, o judiciário em Vitória e a
imprensa em várias partes do Brasil. Ou seja, um ataque contra tudo e contra
todos. Isso é um risco institucional enorme em relação aos ganhos que nós
tivemos desde a abertura da ditadura até hoje. Nós estamos vivendo um momento
muito delicado. Governos têm que prestar muita atenção. Lideranças do movimento,
quais sejam estas. Esse é um grande problema do movimento. É a ausência de
clareza, de quem são essas lideranças, definir exatamente quais são seus rumos
e sua pauta reivindicatória para que possa haver negociação e junto disso a
sociedade civil pensar a cada ato que vai, a cada passo na rua, a cada agressão
que consequência isso pode ter para o país hoje e amanhã?
Eustáquio Ramos - Na prática, que risco que a
democracia brasileira, as instituições correm neste momento de um agravamento
nas manifestações? Que risco é esse?
Malcon Camargos - O problema é quando se começa a
atacar deliberadamente os órgãos públicos, quando começa a atacar
deliberadamente os partidos, você começa ter a chance de uma insurreição do
povo contra o poder. O risco é, uma vez que se ocupe espaços públicos, por
exemplo, será necessário o exército para
desocupar áreas públicas. Será necessário ... nós queremos é depor o presidente
da república, o governador do Estado, o prefeito da sua cidade? E quem depor,
quem vai assumir quem é o líder, quem é essa liderança? Essa juventude na rua com
uma falta de memória histórica que acontece neste país não se pode deixar as
coisas chegarem a este nível. É importante repensar sim.
Kátia Pereira - É possível um golpe?
Malcon Camargos - É possível um golpe, um golpe com consequências
a nós, um golpe fascista do qual você não tem clareza de quem são as
lideranças.
Kátia Pereira – O movimento começou muito bem
intencionado com a adesão de toda a população em Minas Gerais, em vários
Estados, mas o senhor diria que essa falta de clareza das reivindicações, de
lideranças, tudo isso pode levar a alguma armadilha política? Que avaliação o senhor
faz?
Malcon Camargos - É exatamente isso. Essa armadilha foi
construída pela ausência de bandeiras. Como o movimento não tem uma bandeira
tão clara, as reivindicações são muito grandes, cabe a qualquer pessoa. Ontem
mesmo tinha uma pessoa com o cartaz assim - ‘eu sou a favor da volta das
tomadas de dois pinos’ - um cartaz bem humorado, mas que revela exatamente qual
é a identidade do movimento. É um movimento sem identidade, sem clareza! O que
faz com que todo mundo possa ir para a rua manifestar. E quando todo mundo
briga a favor de tudo, ninguém vai conquistar nada. Então não há uma pauta
reivindicatória clara o que deixa os governos atônitos sem saber com quem
negociar e o que negociar. O que leva, por natureza, ao fracasso do movimento, uma
vez que você não tem bandeiras claras a ser conquistadas. Agora tem um lado
positivo nisso: acho que é um alerta grande aos nossos governos de que é
importante sim ouvir o clamor das massas. Não podemos fechar os olhos ao que
diz o país, ao que quer o país. A política pública se faz com avanços constantes.
Não se pode, a partir de benefícios conquistados no passado, achar que vai ter
o apoio constante da população a todo tempo, no tempo futuro. É um recado
importante aos nossos governos.
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