sexta-feira, 21 de junho de 2013

Cientista político diz que movimento não tem identidade.

Diante da interminável onda de manifestação, impossível não registrar aqui no blog uma opinião.

Compartilho uma das entrevistas com bom senso que escutei hoje e fiz a transcrição. É do cientista político Malcon Camargos.

Não sou contra reivindicação, mas é preciso um objetivo claro. O que virou é baderneira e perdeu o sentido.

"É um movimento sem identidade, sem clareza! O que faz com que todo mundo possa ir para a rua manifestar. E quando todo mundo briga a favor de tudo, ninguém vai conquistar nada. Então não há uma pauta reivindicatória clara o que deixa os governos atônitos sem saber com quem negociar e o que negociar. O que leva, por natureza, ao fracasso do movimento, uma vez que você não tem bandeiras claras a ser conquistadas" fala de Malcon Camargos (cientista político)


Rádio Itatiaia – Jornal da Itatiaia 1ª edição
21/06/2013, sexta-feira

Cientista político diz que movimento não tem identidade

No jornal da Itatiaia o cientista político Malcon Camargos.
Kátia Pereira – Nós estamos acompanhando as manifestações por todo o Brasil. Do ponto de vista da política, que análise que se pode fazer sobre este momento que o Brasil está vivendo agora e vamos destacar o que aconteceu ontem em Brasília quando tentaram invadir, incendiar também o Palácio do Itamaraty, a hostilidade a imprensa, a crítica, até então aceitável dentro de algum ponto de vista, aos partidos políticos. Que avaliação que nós podemos fazer?

Malcon Camargos - Eu acho que é um momento bastante delicado e preocupante que a democracia brasileira vem vivendo nestes últimos dias, principalmente a partir das ações de ontem. Uma manifestação que começou por canalizar interesses e insatisfações individuais, foi pegando diversos interesses individuais sem nenhuma liderança. Ontem foi atacado o Executivo com o Itamaraty, alguns legislativos estaduais, o judiciário em Vitória e a imprensa em várias partes do Brasil. Ou seja, um ataque contra tudo e contra todos. Isso é um risco institucional enorme em relação aos ganhos que nós tivemos desde a abertura da ditadura até hoje. Nós estamos vivendo um momento muito delicado. Governos têm que prestar muita atenção. Lideranças do movimento, quais sejam estas. Esse é um grande problema do movimento. É a ausência de clareza, de quem são essas lideranças, definir exatamente quais são seus rumos e sua pauta reivindicatória para que possa haver negociação e junto disso a sociedade civil pensar a cada ato que vai, a cada passo na rua, a cada agressão que consequência isso pode ter para o país hoje e amanhã?

Eustáquio Ramos - Na prática, que risco que a democracia brasileira, as instituições correm neste momento de um agravamento nas manifestações? Que risco é esse?

Malcon Camargos - O problema é quando se começa a atacar deliberadamente os órgãos públicos, quando começa a atacar deliberadamente os partidos, você começa ter a chance de uma insurreição do povo contra o poder. O risco é, uma vez que se ocupe espaços públicos, por exemplo,  será necessário o exército para desocupar áreas públicas. Será necessário ... nós queremos é depor o presidente da república, o governador do Estado, o prefeito da sua cidade? E quem depor, quem vai assumir quem é o líder, quem é essa liderança? Essa juventude na rua com uma falta de memória histórica que acontece neste país não se pode deixar as coisas chegarem a este nível. É importante repensar sim.

Kátia Pereira - É possível um golpe?
Malcon Camargos - É possível um golpe, um golpe com consequências a nós, um golpe fascista do qual você não tem clareza de quem são as lideranças.

Kátia Pereira – O movimento começou muito bem intencionado com a adesão de toda a população em Minas Gerais, em vários Estados, mas o senhor diria que essa falta de clareza das reivindicações, de lideranças, tudo isso pode levar a alguma armadilha política? Que avaliação o senhor faz?

Malcon Camargos - É exatamente isso. Essa armadilha foi construída pela ausência de bandeiras. Como o movimento não tem uma bandeira tão clara, as reivindicações são muito grandes, cabe a qualquer pessoa. Ontem mesmo tinha uma pessoa com o cartaz assim - ‘eu sou a favor da volta das tomadas de dois pinos’ - um cartaz bem humorado, mas que revela exatamente qual é a identidade do movimento. É um movimento sem identidade, sem clareza! O que faz com que todo mundo possa ir para a rua manifestar. E quando todo mundo briga a favor de tudo, ninguém vai conquistar nada. Então não há uma pauta reivindicatória clara o que deixa os governos atônitos sem saber com quem negociar e o que negociar. O que leva, por natureza, ao fracasso do movimento, uma vez que você não tem bandeiras claras a ser conquistadas. Agora tem um lado positivo nisso: acho que é um alerta grande aos nossos governos de que é importante sim ouvir o clamor das massas. Não podemos fechar os olhos ao que diz o país, ao que quer o país. A política pública se faz com avanços constantes. Não se pode, a partir de benefícios conquistados no passado, achar que vai ter o apoio constante da população a todo tempo, no tempo futuro. É um recado importante aos nossos governos.


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